18.1.15

Bíblia de Mona Lisa - Episódio 3


"Sempre que o cabelo lhe ficava pesado demais, ele o cortava e o pesava: 
eram dois quilos e quatrocentos gramas, segundo o padrão do rei"
II Samuel 14,26 (NVI)

Sou careca. Não tenho recalques sobre o tema. Até gosto de ser careca. Inclusive, por mais contraditório que seja: eu corto o meu próprio não-cabelo. Sou da turma dos carecas até a morte. 
Há quem tente esconder a fio a sua calvície. Subterfúgios múltiplos: parcos fios atravessando leste ao oeste, uma ilha solitária de penugens no cume da testa, cremes milagrosos Black Power Rastafarianos ou a tão ridícula peruca.
Eu sou você amanhã.
Agora, há os cabeludos. Os Tony Ramos da cabeça. Gente tipo Capitão Caverna. Você olha e parece que naquela imensidão de cabelos se encontra os achados e perdidos do Terminal Tietê. Cabelo pra dar com o pé. 
Esse era Absalão, filho de Davi.
O cara era o Hopi Hari dos piolhos, o maior consumidor de shampoo de todo Israel, pra fazer chapinha naquele cabelo eram necessárias duas chapas George Foreman. Coitado dos barbeiros do reino: eles não marcavam um horário pra cortar aquele cabelo, já reservava uma semana para o ofício. Eram 2,4kg de cabelo. 
Acho que nem Esaú - o menino lobo da Bíblia - tinha tanto cabelo quanto ele; nem a Gal Costa faria páreo a Absalão.
E assim era o filho do rei: belo, e cabeludo. Eu? Só belo. 

11.1.15

Bíblia de Mona Lisa - Episódio 2



"Dentre todos esses soldados havia 700 canhotos, muito hábeis, 
e cada um deles podia atirar com a funda uma pedra num cabelo sem errar" 
Juízes 20,16 (NVI)

E houve guerra.
Artefatos de guerra mudam. Outrora eram simplesmente: pedras.
Davi, um grande rei de Israel, surgiu no cenário bélico tacando pedras. Ou melhor, somente uma na cabeça de um gigante, daqueles tipo do Senhor de Anéis. Três chances, acertou na primeira.
Era uma cultura: saber atirar pedras. 
As crianças, acredito, já nasciam atirando tudo o que viam pela frente.
Atiravam mamadeiras, fraldas, candelabros, chupetas, quipás, urins e tumins e pedras. 
Havia torneios de pedras ao alvo. Um verdadeiro UFC das pedras. 
Era uma arte - não bastava atirar, tinha que acertar.
Ali, no dia a dia, que os olheiros do exército peneiravam os melhores, a tropa de elite dos atiradores de pedra.
Mas, desta vez, havia uma sacada, um desarranjo para o time adversário: 700 braçudos atiradores, porém canhotos. Sinistro!
Exímios, perfeitos, milimétricos. 
Não eram treinados para acertar meras maçãs nas cabeças dos Benjamins da vida, os alvos eram os próprios cabelos. Muitos ficaram carecas.
Assim surgiu o pelotão Setecentos, sem Rodrigo Santoro.

1.1.15

Bíblia de Mona Lisa - Episódio 1


"Caíram sobre os homens, vindas do céu, enormes pedras de granizo, 
de cerca de trinta e cinco quilos cada"
Apocalipse 16,21 (NVI)

Você já pensou que viu de tudo na vida.
Mas, imagine: você sai de casa todo pimpão.
Viu na meteorologia que vai chover - você acredita nisso porque o céu está preto de rachar, não porque a moça do tempo disse, óbvio. 
Pega aquele guarda-chuvão que achou no lixo do vizinho com as varetas desconexas do pano preto, e sai. 
Mal vira a esquina já cai aquele pingo de doer, e outro e outro.... prepara-se pra dar aquele pinote do ano, e óbvio, de novo, que não acha um santo lugar pra entrar embaixo. 
Os pingos aumentam. Cada vez mais doídos. Aliás, os pingões parecem pedra. Tipo aquela pedrinha que, de início, parece uma picada de abelha.
De repente, você, embaixo daquela árvorezinha de três anêmicos galhos, vê o capô do monza verde do dono da quitanda afundar. 
Granizo?! Aquilo parece mais tijolo baiano. 
Você olha e não acredita: umas pedras de granizo que dá pra gelar umas 200 latas de cerveja por um mês. Granizo de uns 35kg.
Seu guarda-chuva preto que nem garoa aguenta, já era! 
É irmão, vai reclamar da vida?
As vezes, nada melhor do que só uma chuva de canivete!